Centro Equestre Vale do Lima

Grande Entrevista a Filipe Pimenta

 

Nova Limiana (NL) - Pode traçar-me um rápido BI do Filipe Pimenta?

Filipe Pimenta (FP) – Nuno Filipe Vieira Pimenta, 40 anos, empresário, estudou na Escola Superior Agrária de Ponte de lima acabando por não terminar os estudos, provavelmente pela ânsia de concretizar sonhos rapidamente.

Tenho uma postura muito pró-ativa e empreendedora com objetivos muito bem definidos e, como referi anteriormente, tento concretizá-los rapidamente. Na minha opinião só faz sentido trabalhar diariamente nos projetos se conseguirmos usufruir deles e fazer com que o maior número de pessoas, empresas e atividades económicas também usufruam. Esta é a minha filosofia de vida, criar e desenvolver marcas e conceitos.

NL - O cavalo é o melhor amigo do homem?

FP – O cavalo é mais que o melhor amigo do homem!!! O cavalo acompanhou a evolução da humanidade desde o início. Começou por fazer parte da cadeia alimentar humana e rapidamente se transformou num parceiro indispensável e aliado no trabalho agrícola, no transporte, na guerra, lazer, espetáculos nas cortes reais e alta competição. Ainda hoje a potência dos automóveis é medida em cavalos. Acho importante refletir, a humanidade não seria a mesma se não existissem os cavalos?! O cavalo é muito mais que o melhor amigo do homem, é amigo, parceiro, sofre pelo homem com prazer. Existem centenas de raças de cavalos em todo mundo, são marcos históricos de cada país. No nosso caso, o cavalo Lusitano é um produto de excelência do mundo rural, a ser criado em várias dezenas de países, prestigia Portugal pela qualidade como cavalo de sela e polivalência desportiva.

NL - Como definiria a sua relação com este animal?

FP – A minha relação com os cavalos é de paixão, os cavalos despertam paixão. Muito mais que o uso em terapias, lazer, trabalho ou alta competição, o cavalo desperta emoções e une o mundo em volta delas.

NL - Quando é que os cavalos entram na sua vida?

FP - Desde muito jovem que os cavalos entraram na minha vida. Ainda antes de ter o meu primeiro cavalo lembro-me, com 5 ou 6 anos de idade, nas famosas festas de Ponte de lima, Feiras Novas, de madrugada, já eu estava à janela de minha casa a ver passar os agricultores e negociantes de cavalos pela estrada, faziam fila. Essas imagens jamais as esquecerei. Aos 10 anos de idade, o meu pai ofereceu-me uma garrana, raça autóctone do Minho, também esta de origens milenares, na altura era uma garrana muito polivalente, trabalhava no campo, puxava um carro de cavalos (carroça de trabalho e era montada por mim, praticamente, todos os dias. Lembro-me de, aos domingos, sair a passear a cavalo com Fernando Queiros, Tone Sacas, Luís da Barca, Sérgio Pinto, entre outros. Estes, infelizmente, já não estão entre nós, foram muito importantes para que eu tenha continuado o meu sonho.

NL - São dados nomes aos cavalos. Quanto tempo tem de passar até que eles o identifiquem com alguma facilidade?

FP – Os cavalos não identificam propriamente o nome que lhes é dado, identificam com alguma facilidade as pessoas com quem lidam no dia-a-dia, desde o tratador ao cavaleiro, no entanto o tom de voz serve para comunicar com o cavalo. Os cavalos, como disse anteriormente, têm espirito de entrega e rapidamente se adaptam a pessoas que nunca viram.

NL - O cavalo é um animal tão inteligente quanto as histórias e estórias o dizem?

FP –Não diria que o cavalo é um animal inteligente, diria que aprende por estímulos. Se fosse inteligente, provavelmente, dificultava todo o percurso da evolução animal homem da pré-história até aos dias de hoje. Se fosse inteligente sofreria menos por nós, no trabalho, na guerra e na alta competição. As histórias que se contam transmitem a paixão dos homens pelo cavalo, foi e é um companheiro fiel.

NL - Uma história comovedora de um deste animais na sua vida.

FP – Um cavalo que me marcará para sempre.... Comprei-o com 4 anos, acompanhou o crescimento do Centro Equestre Vale do Lima durante 15 anos, morreu perto dos 20, bem próximo de mim. O espírito de entrega e personalidade distinta fez dele um cavalo especial, montei-o durante vários anos. Julgo e espero que, tal como eu, ele tenha desfrutado em pleno dos momentos que passamos juntos. Agradeço ao Espanhol, era assim que se chamava, tudo o que fez por mim.

NL - E já agora, uma história empolgante de um cavalo na sua vida.

FP –Eu diria que a história comovedora é de igual forma empolgante, mais uma vez agradeço a esse cavalo.

NL - Já podemos utilizar o termo "capital equestre do cavalo em Portugal" para Ponte de Lima?

FP – Sem dúvida que já podemos utilizar o termo “Ponte de Lima, Destino Equestre Internacional”. Ponte de lima, ano após ano, posiciona-se no roteiro de desporto equestre. Esse é o nosso grande objetivo, fazer com que Ponte de Lima seja cada vez mais procurada pela elite dos cavaleiros mundiais. O recinto equestre de ponte de lima, para além do extraordinário enquadramento paisagístico e proximidade ao centro da vila, é também uma estrutura de alto nível para organizar competições. Em Portugal organizam-se centenas de concursos e eventos equestres, todos os dias cresce o número de praticantes e cavaleiros a competir. Também não duvido que o projeto de Ponte de Lima tem ajudado a impulsionar o desporto e atividade equestre em Portugal.

NL - O que é hoje a realidade do Centro Equestre Vale do Lima?

FP – O Centro Equestre Vale do Lima hoje é também uma referência. Tendo como marca de excelência o cavalo lusitano, somos procurados por gente de vários países, aficionados e profissionais.  Sediado na Quinta da Sobreira, composto por 45 boxes de dimensões e conforto considerável, duas pistas exteriores e ainda um picadeiro coberto de características especiais, visto que podemos estar a almoçar ou jantar com vista privilegiada para o mesmo. O restaurante Picadeiro é também uma referência em toda a região. O CEVL apostou desde sempre na formação e no ensino de cavalos, tendo como objetivo principal promover e dinamizar a atividade equestre na região.

NL - "Ponte de Lima - Destino Equestre Internacional" é nas palavras do Eng. Victor Mendes, Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima "uma marca de grande qualidade...e forma de dinamizar o turismo e a economia local". Pensa exatamente o mesmo?

FP – As palavras do Sr. Presidente da Câmara, Eng.º Victor Mendes, são o reflexo do sucesso de toda a estratégia delineada, são também o reforço da mensagem que é passada pelos empresários dos vários setores de negócio da região, certamente o grande objetivo dos responsáveis políticos de Ponte de Lima.

NL - Que mundo virá até nós, particularmente em eventos como o Mundial de Horseball e o Concurso de Saltos Internacional?

FP – Os eventos equestres internacionais trazem a Ponte de Lima cavaleiros, staff e outros seguidores de vários países do mundo, países com culturas e costumes diferentes do nosso, muitos deles com forte atividade económico-social. No Campeonato do Mundo de Horseball vamos ter países como, por exemplo, Brasil, México, Argentina, França, entre outros, será um evento de forte atividade desportiva, económica, social e cultural. Será um grande momento para toda a região. Vários dias com milhares de estrangeiros no norte do país. É uma oportunidade para promover tudo de bom que temos, desde a gastronomia ao bem receber e património cultural edificado. Tal como já tem acontecido noutras datas, mais uma vez Ponte de Lima fará história.

NL- Qual é a mais valia internacional do cavalo lusitano?

FP –O cavalo lusitano é um património nacional, produto de excelência do mundo rural é considerado a raça mais polivalente de todas as raças. Muito bom no lazer como cavalo de sela, no entanto desportivamente vai se posicionando em lugares cimeiros. O cavalo lusitano é bandeira, embaixador e promotor de Portugal pelo mundo, desperta paixões e une países e culturas em redor de Portugal.

NL - A "Feira do Cavalo de Ponte de Lima" o que é que representa nos dias de hoje?

FP – A Feira do Cavalo de Ponte de Lima transformou-se rapidamente num evento de referência emblemático de toda a região e do país. O gosto pelo cavalo é transversal a culturas, estados sociais e regiões. Os Solares, ruas, aldeias e montanhas, se falassem, teriam muitas histórias sobre cavalos para contar, esse gosto e paixão está intrínseco na ruralidade de Ponte de Lima.

NL - Como é que nasceu a ideia?

FP – A convite do antigo Presidente da Câmara de Ponte de Lima, Eng.º Daniel Campelo, aceite de imediato e, em conjunto, com a Escola Superior Agrária de Ponte de Lima e a Associação Empresarial de Ponte de Lima avançamos com o início de um grande projeto. Aconselhei-me com grandes figuras do panorama equestre e da criação de cavalos lusitanos, tive a sorte de ainda poder partilhar as minhas ideias com Francisco Sousa Cardoso, emblemático criador de cavalos de Amarante, chegando a um consenso, Ponte de Lima tinha que fazer algo diferente, um evento com identidade muito própria e a aposta seria a alta competição, nunca descurando as modalidades mais amadoras. Trazer a Ponte de Lima os principais criadores de cavalos era essencial para o sucesso. Só seria possível concretizar esse projeto construindo infraestruturas com dimensões técnicas mínimas para tal. O então Presidente da Câmara, Eng.º Daniel Campelo, não hesitou em agarrar o projeto e objetivos propostos. Infelizmente, e fica aqui o meu testemunho, Francisco Sousa Cardoso, não conseguiu vir à I Feira do Cavalo, tendo falecido um pouco antes. O atual Presidente da Câmara, Eng.º Victor Mendes, na altura Vice-Presidente da Câmara, dá continuidade reforçando a cada ano a estratégia e objetivos. Todos queremos que Ponte de Lima cresça económica e culturalmente. Este é um grande exemplo do que deve ser feito em Portugal.

NL - Foi uma boa ajuda a sua experiência, trazida do Centre Equestre do Vale do Lima?

FP – Sem dúvida, a experiência do Centro Equestre Vale do Lima foi essencial para se conseguir, em tão pouco tempo, fazer tanto e tão bem feito. O CEVL já anos antes da I Feira do Cavalo organizava eventos equestres de muito bom nível, a região já era conhecida como destino onde se organizava e recebia bem. O staff técnico que organizava as competições no CEVL dá seguimento à organização da I Feira do Cavalo e a muitos outros eventos. Hoje organizamos competições em Portugal e além-fronteiras, somos também consultores de projetos equestres e turísticos.

NL - O atual momento económico do país, reflete-se também negativamente neste meio?

FP - A atividade económica nacional influencia todos os setores, sendo que o cavalo e o desporto equestre também o sentem, no entanto, o cavalo lusitano é um produto de exportação, qualidade, prestigio e excelência, é o caminho para exportarmos as excelência de Portugal. O turismo tal como o cavalo, vinho, azeite e muitos outros produtos de alta qualidade e diferenciação, em conjunto, criam e criarão ainda mais atividade económica.

NL - Como é que a juventude Limiana olha para esta sua realidade. Já é muito participativa, ou pode ser mais?

FP – O cavalo faz cada vez mais parte do quotidiano de Ponte de Lima, ninguém fica indiferente ao cavalo e às emoções que o mesmo transmite. A presença de jovens nos eventos equestres é muito representativa. Para além de outras formas de aprender a montar a cavalo, a Escola Profissional de Ponte de Lima, de há 3 anos para cá, desenvolve um curso de Gestão Equina. Na região aparecem novos criadores de cavalos, centros hípicos e espaços com atividades equestres, os jovens têm hoje a oportunidade de aprender a montar a cavalo que há uns anos atrás seria mais difícil. Todos sentimos uma forte presença de jovens nesses espaços de aprendizagem.

NL - Perante a realidade de visitas de estrangeiros e portugueses de todas as latitudes, acha que este trabalho já pode ser considerado na região, um ex-libris de Portugalidade e da nossa cultura?

FP – O cavalo é cultura e identidade. Ponte de Lima, a vila mais antiga de Portugal, junta entre outros ex-libris, como património edificado, museus, gastronomia, paisagem e natureza, um rio de campeões, o garrano e o lusitano, património vivo com muitos milhares de anos. Os estrangeiros e comunicação internacional que passam pelos eventos equestres transmitem essa mensagem única.

NL - Uma última questão. A história do cavalo ao longo dos tempos, no acompanhar do homem e da própria história da humanidade, está bem contada, ou ainda não se lhe faz a justiça total?

FP – É difícil falar de alguns assuntos. Muitos foram os cavalos que morreram e ficaram mutilados e abandonados em campos de batalha ao fim de longas horas de exausto trabalho de campo ou por meros abusos de inconscientes e malformados proprietários. A parte boa e que fica é de um nobre animal sofredor que tenta agradar a tudo e todos e que nós temos que muito bem cuidar.

NL - Muito obrigado Filipe Pimenta, parabéns pelo seu trabalho desenvolvido e muitos êxitos.

As maiores felicidades.

FP – Foi para mim uma enorme honra ser entrevistado por António Sala, figura nacional incontornável.

                                       in Revista Nova Limiana (Pág. 32 a 39)

 


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